Amizades Perigosas
Afinal,
de que lado os EUA estão na guerra na Síria? Vou fazer uma pequena
análise de maneira indireta – olhando para o que os seus aliados
próximos fazem. O bom e velho “diga-me com quem andas que direi
quem tu és”…
A
Arábia Saudita - “um ISIS que deu certo”, segundo o colunista do
New York Times Kamel Daoud - praticamente deve sua existência aos
EUA. Sem as volumosas vendas de material militar do Pentágono para a
família dos Saud, dificilmente o país seria uma potência regional.
Os EUA, por sua vez, ganham um local privilegiado para utilizar de
base nas suas aventuras sangrentas no Oriente Médio, e também uma
demanda permanente por seus dólares, já que essa é a moeda oficial
para os negócios da Aramco, a empresa nacional responsável pela
exploração do petróleo no país.
A
religião oficial do reinado da Arábia Saudita é uma forma do
islamismo sunita chamada Wahhabismo. É por isso que a lei islâmica,
a Sharia, é a lei do reinado. É por isso que a decapitação, a
crucificação e o apedrejamento fazem parte das punições legais de
lá. É por isso que as mulheres não podem dirigir. A oposição ao
governo é punida com a morte. A resposta dos EUA quando esse tipo de
assunto é tocado é padrão: eles dizem que “estão pedindo para
que os governantes sauditas respeitem os direitos humanos”.
Obviamente, seus pedidos não fazem muito efeito.
O ápice
da contradição dessa relação entre EUA e Arábia Saudita veio no
11 de setembro de 2001. A primeira investigação sobre o ataque por
uma comissão parlamentar, que terminou em dezembro de 2002, foi
marcada por uma verdadeira muralha com relação as informações do
financiamento da Al Qaeda pelos sauditas. No relatório final, há um
capítulo sobre esse financiamento. Mas até hoje, o público não
sabe o que esse capítulo diz, já que ele foi inteiramente censurado
em nome da “segurança nacional”, para não envergonhar os
“amigos” sauditas. Será que esse acobertamento não ajudou as
organizações irmãs da Al Qaeda a prosperarem e se espalharem pelo
mundo – inclusive na Síria? Será que alguns desses financiadores
estão ajudando o Estado Islâmico hoje?
A
Turquia, por sua vez, tem papel-chave no conflito, já que é através
de suas fronteiras que o petróleo e parte das armas do ISIS são
contrabandeados (a outra parte das armas vem do Iraque, cortesia dos EUA). É na Turquia que alguns dos grupos rebeldes “moderados”
são treinados pela CIA e pelo Pentágono e enviados para combater o
regime de Assad.
O
presidente Putin e seu ministro de Relações Exteriores Lavrov
consistentemente apresentam provas dessa ligação crucial para a
existência do ISIS. Porém, o país é membro da Otan, aliado dos
EUA, e, assim como a Arábia Saudita, não pode ser responsabilizado
por fomentar o terrorismo! Por isso, tudo que os russos dizem deve
ser desacreditado, dado a mínima importância. Os contundentes
discursos antiterroristas de Obama, Kerry, Clinton e outros sempre
dão um jeito de se distanciar de tudo que é ruim nos seus aliados,
e de seu próprio papel passivo, de não combater firmemente grupos
que ajudam os terroristas. Não caiam nessa!
Link do original: http://horadopovo.com.br/2016/02Fev/3414-05-02-2016/P7/pag7f.htm
Link do original: http://horadopovo.com.br/2016/02Fev/3414-05-02-2016/P7/pag7f.htm
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