12/02/2016

"Amizades perigosas" - Coluna no jornal Hora do Povo, 05/02/2016

Amizades Perigosas

Afinal, de que lado os EUA estão na guerra na Síria? Vou fazer uma pequena análise de maneira indireta – olhando para o que os seus aliados próximos fazem. O bom e velho “diga-me com quem andas que direi quem tu és”…

A Arábia Saudita - “um ISIS que deu certo”, segundo o colunista do New York Times Kamel Daoud - praticamente deve sua existência aos EUA. Sem as volumosas vendas de material militar do Pentágono para a família dos Saud, dificilmente o país seria uma potência regional. Os EUA, por sua vez, ganham um local privilegiado para utilizar de base nas suas aventuras sangrentas no Oriente Médio, e também uma demanda permanente por seus dólares, já que essa é a moeda oficial para os negócios da Aramco, a empresa nacional responsável pela exploração do petróleo no país.

A religião oficial do reinado da Arábia Saudita é uma forma do islamismo sunita chamada Wahhabismo. É por isso que a lei islâmica, a Sharia, é a lei do reinado. É por isso que a decapitação, a crucificação e o apedrejamento fazem parte das punições legais de lá. É por isso que as mulheres não podem dirigir. A oposição ao governo é punida com a morte. A resposta dos EUA quando esse tipo de assunto é tocado é padrão: eles dizem que “estão pedindo para que os governantes sauditas respeitem os direitos humanos”. Obviamente, seus pedidos não fazem muito efeito.

O ápice da contradição dessa relação entre EUA e Arábia Saudita veio no 11 de setembro de 2001. A primeira investigação sobre o ataque por uma comissão parlamentar, que terminou em dezembro de 2002, foi marcada por uma verdadeira muralha com relação as informações do financiamento da Al Qaeda pelos sauditas. No relatório final, há um capítulo sobre esse financiamento. Mas até hoje, o público não sabe o que esse capítulo diz, já que ele foi inteiramente censurado em nome da “segurança nacional”, para não envergonhar os “amigos” sauditas. Será que esse acobertamento não ajudou as organizações irmãs da Al Qaeda a prosperarem e se espalharem pelo mundo – inclusive na Síria? Será que alguns desses financiadores estão ajudando o Estado Islâmico hoje?

A Turquia, por sua vez, tem papel-chave no conflito, já que é através de suas fronteiras que o petróleo e parte das armas do ISIS são contrabandeados (a outra parte das armas vem do Iraque, cortesia dos EUA). É na Turquia que alguns dos grupos rebeldes “moderados” são treinados pela CIA e pelo Pentágono e enviados para combater o regime de Assad.

O presidente Putin e seu ministro de Relações Exteriores Lavrov consistentemente apresentam provas dessa ligação crucial para a existência do ISIS. Porém, o país é membro da Otan, aliado dos EUA, e, assim como a Arábia Saudita, não pode ser responsabilizado por fomentar o terrorismo! Por isso, tudo que os russos dizem deve ser desacreditado, dado a mínima importância. Os contundentes discursos antiterroristas de Obama, Kerry, Clinton e outros sempre dão um jeito de se distanciar de tudo que é ruim nos seus aliados, e de seu próprio papel passivo, de não combater firmemente grupos que ajudam os terroristas. Não caiam nessa!

Link do original: http://horadopovo.com.br/2016/02Fev/3414-05-02-2016/P7/pag7f.htm
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Locations of Site Visitors