A névoa da guerra
Os tambores da
guerra batem cada vez mais alto. Na Síria, houve uma escalada do
conflito. A Turquia atacou uma base aérea controlada pelo YPG* na
região de A'zaz, dizendo que o YPG está aproveitando a luta contra
o ISIS para avançar demais sobre o território turco. Os EUA, que há
apenas duas semanas elogiaram o YPG como um dos mais eficientes
aliados no combate ao ISIS, ficou na delicada posição de ter que
condenar uma ação militar por parte de um aliado. Esse ataque veio
logo após uma decisiva ofensiva da coalizão Síria-Rússia-Irãsobre a cidade de Aleppo, uma das fortalezas dos rebeldes que querem
derrubar o governo de Assad. O ataque também violou um acordo de
cessar-fogo estabelecido em Munique apenas quatro dias antes. Pra
completar, a Arábia Saudita e a Turquia passaram a dizer que estão
apenas esperando o aval da coalizão anti-ISIS para iniciar uma
invasão por terra na Síria.
O ataque ao YPG,
propagandeado pela Turquia como autodefesa, nada fora do comum,
acabou servindo mais de um propósito. Ao mesmo tempo que permitiu ao
governo turco reafirmar sua posição contra o PKK, também
enfraqueceu uma importante organização armada que está de fato
atuando ao lado do governo Bashar Al Assad. A Turquia e a Arábia
Saudita estão bastante comprometidas em retirar Assad do poder e,
para isso, estão apoiando e financiando diversos grupos rebeldes no
território sírio. Com isso, acabam indiretamente apoiando
o próprio ISIS, que se beneficia da desestabilização do governo e
do enfraquecimento do Exército Sírio.
O
acordo de cessar-fogo foi bastante peculiar. Primeiro, é óbvio que
um acordo diplomático só se aplica a entidades que acreditam na via
diplomática – o que já exclui o ISIS, o Jabhat al-Nusra e
inúmeros outros grupos. Isso levou Bashar Al Assad a comentar quetal acordo é simplesmente impossível de ser levado a cabo. Afinal,
o Exército Sírio não vai ficar de braços cruzados enquanto os
terroristas continuam a agir. Nem a Rússia, que continuou sua
campanha de bombardeios em apoio a Assad – levando a mídia a
condená-los por “violarem o acordo”.
O
discurso em concerto da Turquia e da Arábia Saudita – ameaçando
uma invasão por terra com milhares de tropas para “acabar com o
conflito”– mostra que ambos os países estão impacientes com a
guerra na Síria. É uma ameaça dupla. Primeiro, é uma ameaça a
coalizão Síria-Rússia-Irã, já que o alvo de tal invasão é
Bashar Al Assad. Segundo, é um modo de colocar os EUA contra a
parede. Ou os EUA estão com
os turcos e os sauditas, ou estão contra eles.
–
P.S.:
Enquanto fecho esta coluna, um ataque brutal ocorreu na capital daTurquia, Ancara, matando 28 pessoas. O ataque foi próximo ao
parlamento turco, e atingiu um ônibus que carregava soldados turcos.
Até agora, nenhum grupo assumiu a responsabilidade do ataque, o que
eu acho bastante suspeito. Afinal, um ataque bem sucedido num alvo
tão significativo deveria ser motivo de comemoração, para um grupo
terrorista. Há a possibilidade do governo turco culpar o PKK e
utilizar o ataque como a gota d'água para justificar uma ofensiva
militar mais robusta sobre os curdos – o que, talvez,
seja o primeiro passo para a tal “invasão por terra” para tirar
Assad do poder.
*: Unidades de
Proteção Popular, uma organização militar que tem o apoio
do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Link do original: http://horadopovo.com.br/2016/02Fev/3416-19-02-2016/P7/pag7e.htm
Link do original: http://horadopovo.com.br/2016/02Fev/3416-19-02-2016/P7/pag7e.htm
Sai desse panfleto tucano, Caio. Vc escreve bem, mas o veículo é uma vetsão catos amigos plumada.
ResponderExcluirSai desse panfleto tucano, Caio. Vc escreve bem, mas o veículo é uma vetsão catos amigos plumada.
ResponderExcluirDiscordo da sua caracterização, não vejo o Hora do Povo dessa forma. Se souber de mais alguém que queira me publicar, dá um toque! Hahaha
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