23/01/2016

Coluna do jornal Hora do Povo, 22/01/2016

Olá, leitor.

Segue a minha última coluna, publicada nesta edição do jornal Hora do Povo.

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Cúpula das Sombras

Nesta coluna, procuro dar um ponto de vista diferente sobre acontecimentos recentes ao redor do mundo que dizem respeito a expansão do império estadunidense. Mas hoje vou dar um passo para trás, e vou falar sobre um pouco da história que me ajuda a compreender o andar dessa carruagem imperial, e que talvez ajude o leitor também.

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No meu blog, escrevi dois artigos sobre a CIA (um e dois). No primeiro artigo, falei sobre o National Security Council (Conselho de Segurança Nacional), que reúne a alta cúpula do Poder Executivo dos EUA: Presidente, Vice-Presidente, Secretário de Defesa, Secretário de Estado e outros convidados. As reuniões do NSC são parte importantíssima de todas as presidências a partir de 1947, quando a entidade foi criada. Por exemplo, foi durante uma reunião do NSC em 11 de dezembro de 1962 que John F. Kennedy discutiu um documento secreto doDepartamento de Estado que descrevia “colaborar com elementos brasileiros hostis a Goulart visando sua derrubada” como uma das alternativas para os EUA frente a situação política do Brasil na época. Foi numa reunião do NSC em 30 de janeiro de 2001 que Bush, Cheney, Rumsfeld e companhia começaram a discutir a possibilidade de travar uma guerra contra o Iraque, uma intenção que o resto do mundo só tomou conhecimento dali a vários meses, quando os EUA responderam aos ataques de 11 de setembro. É também ao NSC que é enviada a nata da inteligência coletada pelos espiões humanos e eletrônicos espalhados pelo mundo.

Negação plausível

No segundo, falei sobre plausible deniability (“negação plausível”). Esse conceito diz respeito a estrutura de uma operação clandestina. Basicamente, é o modo pelo qual os membros do NSC são capazes de dizer que “não sabiam de nada” quando alguma operação dessas dá errado e é tornada pública. Funciona assim: acompanhado da operação em si, é elaborada uma história que os agentes (ou seus superiores) devem repetir caso sejam pegos. O objetivo de tais histórias, além de proteger os agentes, é proteger a cadeia de comando que ordenou tal operação. Por exemplo, em maio de 1960, quando o avião-espião U-2, em missão da CIA, foi abatido em território soviético, a história oficial imediatamente transmitida era de que o voo era da NASA e tinha objetivos “científicos”. O então Primeiro-ministro soviético Nikita Khrushchev usou essa história “plausível” contra os EUA, esperando vários dias para revelar que o avião estava tripulado por um espião, que foi capturado. Isso causou enorme vergonha para a administração Eisenhower. Mais de uma semana depois do incidente, o então Presidente Dwight Eisenhower admitiu que sabia do verdadeiro propósito do voo.

Névoa da ignorância

Essa alta cúpula da Casa Branca, portanto, age de maneira muito sofisticada e furtiva para atingir seus objetivos. E um dos pilares de seu modo de agir é a ignorância do público em relação ao seu funcionamento. Eles literalmente “se safam” de qualquer tipo de exposição pública – ou punição – mesmo quando vão contra diversas leis e convenções. A guerra do Iraque, por exemplo, nos foi vendida como uma “resposta” ao ataque de 11 de setembro de 2001. Porém, quando o conteúdo das primeiras reuniões do NSC sob Bush foi revelado, ficou claro que os ataques foram apenas uma “desculpa”, e que a guerra ao Iraque estava sendo planejada muito antes deles. Será que se o público soubesse disso, a guerra teria o apoio que teve?

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