Esse não é o primeiro e está longe de ser o último caso de violência associada aos seguidores do candidato do PSL. Os casos se acumulam. Antes da eleição, eles resolveram atacar, nas redes, a jornalista que escreveu uma matéria crítica a ele. Porém, acabaram atacando outra jornalista, com o mesmo nome, que teve seus dados pessoais divulgados na Internet e sofreu diversas ameaças. No sábado antes da eleição, Julyanna Barbosa, mulher trans, ex-vocalista do grupo Furacão 2000, foi atacada com uma barra de ferro nas ruas do Rio de Janeiro. Os agressores disseram, antes de atacá-la, que "Bolsonaro vai ganhar pra acabar com os veados. Essa gente lixo tem que morrer". No domingo, um jornalista que usava uma camiseta com a imagem do ex-Presidente Lula foi atropelado por um motorista que depois ameaçou atirar, pois tinha uma arma. No perfil do motorista no Facebook, diversas postagens de ódio ao Partido dos Trabalhadores.
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Ameaça que eu recebi no Facebook. Preciso dizer que candidato ele defendia? |
Os ataques, infelizmente, não surpreendem. O candidato do PSL tem postura agressiva e seus apoiadores o imitam. Bolsonaro, por exemplo, deixou sua posição em relação aos homossexuais bem clara ao longo dos anos. Ele já declarou que "agora, homossexual, ninguém gosta, a gente suporta", que se um filho "começa a ficar assim, meio gayzinho, leva um coro e muda de comportamento", que "não gostaria de ter um filho homossexual" e que "prefiro que meu filho morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí". Além disso já disse que "as minorias tem que se calar, se curvar a maioria, acabou". Em outubro, em um ato de campanha em Rio Branco, Acre, berrou em cima de um caminhão de som, segurando um tripé de câmera como se fosse uma arma, que "vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre". E foi ovacionado.
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Cena do comício em Rio Branco. (Foto: reprodução). |
Mesmo depois de uma enxurrada de críticas, disse que não pode se "violentar e virar o 'Jairzinho paz e amor'". Questionado por um repórter sobre como ele via esses atos de violência "em nome ou em apoio ao senhor", Bolsonaro entrou na defensiva, e primeiro disse que a vítima foi ele, que ele que levou a facada. Depois, disse que "um cara lá que tem uma camisa minha comete um excesso, que que eu tenho a ver com isso?". Continuou: "eu lamento, peço ao pessoal que não pratique isso, mas eu não tenho controle sobre milhões e milhões de pessoas que me apoiam". Terminou a resposta dizendo que "a violência vem do outro lado, a intolerância vem do outro lado" e minimizou a onda de violência falando que "tá feia a disputa, mas são casos isolados que a gente lamenta e espera que não ocorra".
Em entrevista, lamentei e pedi para que eleitores não pratiquem violência. Os jornais publicaram apenas uma fala isolada para manipular a opinião pública. Esqueceram que quem levou uma facada por motivações políticas fui eu. Essa desinformação está a serviço de quem? pic.twitter.com/yBE3FcEG9e— Jair Bolsonaro 1️⃣7️⃣ (@jairbolsonaro) 10 de outubro de 2018
A grande proposta de segurança pública do candidato é o armamento da população. Segundo ele, "o cidadão armado é a primeira linha de defesa de um país". Essa sua mentalidade que insinua a "justiça com as próprias mãos", na minha opinião, é exatamente o que está dando combustível para esses ataques. Cada um deve se defender contra aquilo que parece o ameaçar. Não importa se é uma pessoa LGBT, um "esquerdista" ou um animal. O desprezo do candidato pelos direitos humanos é outro fator. Afinal, já que não há direitos humanos universais, caberia a cada um decidir quais humanos possuem direitos e quais não possuem.
Por fim, na mesma linha de pensamento de que há espaço para a justiça com as próprias mãos, o candidato, na rádio Jovem Pan, uma vez declarou que "naquela região onde a milícia é paga, não tem violência" e defendeu as milícias em outras ocasiões. Seu filho, em 2007, falava até na legalização das milícias. O candidato voltou atrás depois, mas sem condenar as milícias como um todo - para ele, elas "acabaram se desvirtuando". Ele também foi o único candidato a presidência que não deu declarações imediatamente após o assassinato de Marielle Franco, uma parlamentar do PSOL com atuação incisiva na área de direitos humanos e que participou da CPI das Milícias. Preferiu se calar "para não politizar o assunto", porém seus filhos não tiveram problemas em fazê-lo. Os principais suspeitos do crime são milicianos.
Se ainda como candidato, já há grupos de apoiadores que se sentem a vontade para intimidar, ameaçar e agredir pessoas nas ruas, o que acontecerá se ele for eleito? Vamos lembrar, aqui neste artigo mostrei que o ódio dos apoiadores pode se dirigir a uma pessoa LGBT, a um simpatizante do PT, a uma mulher com sua filha e até a um cachorro. Não tem muito critério. Será que veremos grupos de mascarados - ou até sem máscaras - andando nas ruas com as camisetas do candidato, espancando até quem "olhar torto" pra eles?
Tava na hora de alguem colocar os pontos nos i
ResponderExcluirBoa Caio