03/08/2017

John Pilger - Por dentro do Governo Invisível, parte dois

(Segunda parte traduzida do artigo Inside the invisible government: War, Propaganda, Clinton and Trump, postado no site rt.com em 28 de outubro de 2016. Parte um aqui. Os destaques são meus.)

Aliados no golpe da Ucrânia: Foto da esquerda - Oleh Tyahnybok, líder do partido Svoboda, Vitaly Klitschko (atrás), membro da oposição, Victoria Nuland (frente), Secretária-Assistente de Estado para Assuntos da Europa e Eurásia na administração Obama, Arseny Yatsenyuk, membro da oposição. Foto central - membros do partido de extrema direita Svoboda, durante o golpe na Ucrânia (notem o símbolo neonazista no braço). Foto da direita - Yatsenyuk e Tyahnybok se encontram com John McCain (Senador Republicano do Arizona, EUA).

A Ucrânia é outro triunfo da mídia. Jornais liberais respeitáveis como o New York Times, o Washington Post e o Guardian, e redes grandes como a BBC, NBC, CBS, CNN tiveram um papel crítico em condicionar sua audiência a aceitar uma nova e perigosa Guerra Fria. Todos foram enganosos ao mostrar eventos na Ucrânia como atos malignos da Rússia quando, de fato, o golpe na Ucrânia em 2014 foi trabalho dos Estados Unidos, ajudados pela Alemanha e a OTAN.

Esta inversão da realidade é tão profunda que a intimidação militar de Washington contra a Rússia não é notícia; é suprimida por trás de uma campanha de difamação e medo do tipo que eu vi durante a primeira guerra fria. Mais uma vez, os russos vão nos pegar, liderados por outro Stálin, que o The Economist retrata como o diabo.

A supressão da verdade sobre a Ucrânia é um dos blecautes de notícia mais completos de que me lembro. Os fascistas que construíram o golpe em Kiev são da mesma laia dos que apoiaram a invasão nazista da União Soviética em 1941 de todos os medos sobre a ascensão do antissemitismo fascista na Europa, nenhum líder menciona os fascistas na Ucrânia – exceto Vladimir Putin, mas ele não conta.

Muitos na mídia ocidental trabalharam duro para apresentar a população da Ucrânia que fala russo como estrangeiros do seu próprio país, como agentes de Moscou, quase nunca como ucranianos buscando uma federação dentro da Ucrânia e como cidadãos ucranianos resistindo um golpe de estado orquestrado de fora contra seu governo eleito.

Há praticamente o espírito de uma reunião de "ex-alunos" belicistas. Os percussionistas da guerra do Washington Post incitando a guerra contra a Rússia são os mesmos editores que publicaram a mentira de que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa.

Show de Horrores

Para a maioria de nós, a campanha presidencial estadunidense é um show de horrores da mídia, onde Donald Trump é o vilão. Mas Trump é odiado por aqueles com poder nos EUA por razões que tem pouco a ver com seu comportamento e opiniões ofensivas. Para o governo invisível em Washington, o imprevisível Trump é um obstáculo para o plano estadunidense para o século 21, isto é, manter a dominância dos EUA e subjugar a Rússia e, se possível, a China.

Para os militaristas em Washington, o verdadeiro problema com Trump é que, nos seus momentos lúcidos, ele não parece querer uma guerra contra a Rússia; ele quer falar com o presidente russo, não lutar contra ele; ele diz que quer falar com o presidente da China.

No primeiro debate com Hillary Clinton, Trump prometeu não ser o primeiro a introduzir armas nuclear num conflito. Ele disse, “Eu certamente não seria o primeiro a atacar. A partir do momento que a alternativa nuclear acontece, acabou”. Isso não foi notícia.

Ele realmente quis dizer isso? Quem sabe? Ele frequentemente se contradiz. Mas o que é claro é que Trump é considerado uma ameaça séria ao status quo mantido pela vasta máquina de segurança nacional que controla os EUA, não importa quem está na Casa Branca.

A CIA quer ele derrotado. O Pentágono quer ele derrotado. A mídia quer ele derrotado. Até seu próprio partido quer ele derrotado. Ele é uma ameaça aos controladores do mundo – ao contrário de Clinton, que não deixa dúvidas que está preparada para travar guerras contra a Rússia e a China, ambas potências nucleares.

Clinton sabe o que faz, e se gaba disso. Seu histórico é provado. Como senadora, ela apoiou a carnificina no Iraque. Quando ela se candidatou em 2008 contra Obama, ela ameaçou “destruir totalmente” o Irã. Como Secretária de Estado, ela agiu em conluio pela destruição dos governos da Líbia e de Honduras e provocou a China.

Agora ela prometeu apoiar uma zona de exclusão aérea na Síria – uma provocação perigosa contra a Rússia. Clinton pode se tornar a presidente mais perigosa dos EUA da minha vida – uma distinção com forte competição.

Sem um pingo de provas, ela acusou a Rússia de apoiar Trump e hackear seus e-mails. Publicados pelo WikiLeaks, estes e-mails nos contam que o que Clinton fala privadamente, em discursos para os ricos e poderosos, é o oposto do que ela diz em público.

É por isso que silenciar e ameaçar Julian Assange é tão importante. E deixe-me assegurá-los, para quem está preocupado, ele está bem, e o WikiLeaks está operando com força total.

Hoje, a maior concentração de forças militares dos lideradas pelos EUA desde a Segunda Guerra Mundial está a caminho – no Cáucaso e na Europa Oriental, na fronteira com a Rússia, e na Ásia e no Pacífico, onde a China é o alvo.

Tenha isso em mente quando o circo da eleição presidencial chegar no seu final em 8 de novembro. Se a vencedora foi Clinton, um coro grego de comentadores estúpidos vai celebrar sua coroação como uma grande conquista para as mulheres. Nenhum irá mencionar as vítimas de Clinton: as mulheres da Síria, as mulheres do Iraque, as mulheres da Líbia. Nenhum irá mencionar os exercícios de defesa sendo feitos na Rússia. Nenhum vai relembrar as “tochas da liberdade” de Edward Bernays.

O porta-voz da imprensa de George Bush uma vez chamou a mídia de “cúmplices ajudantes”. Vindo de um oficial sênior de uma administração cujas mentiras, ajudadas pela mídia, causaram tanto sofrimento, essa descrição é um aviso da história.

Em 1946 o promotor do Tribunal Nuremberg disse sobre a mídia alemã: “Antes de toda grande agressão, eles iniciaram uma campanha da imprensa calculada para enfraquecer suas vítimas e preparar a população alemã psicologicamente para o ataque. No sistema de propaganda, era a imprensa e o rádio diários que eram as armas mais importantes”.

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