O Artigo 1º da Constituição dos EUA determina que apenas o Congresso pode declarar guerra. Esse documento, elaborado em meados do século 18, era uma resposta incisiva ao absolutismo e os constituintes entendiam que o poder de declarar guerra jamais poderia ficar nas mãos de uma só pessoa. Pelo contrário, deveria estar nas mãos do povo, por meio de seus representantes eleitos no Congresso, que deveriam debater abertamente as questões de guerra. A última vez que a Constituição foi respeitada, porém, foi na Segunda Guerra Mundial, quando o Presidente Franklin D. Roosevelt declarou guerra contra o Japão e em seguida contra o resto do Eixo - Alemanha e Itália - em 1941, e um ano depois contra outros países aliados ao Eixo (Hungria, Bulgária e Romênia). Nos quase 80 anos que se sucederam, todos as operações militares não foram acompanhadas dessa declaração de guerra aprovada pelo Congresso.
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Selo das Forças Espaciais dos EUA, em sua tentativa de dominar até o Espaço Sideral. |
Além das campanhas de bombardeio, os EUA conduziram inúmeras guerras secretas por meio da CIA, que utiliza desde rádios piratas e redes sociais, passando pelo apoio a organizações políticas, think tanks e até financiamento de organizações paramilitares. Na guerra civil da Síria, a CIA canalizou um bilhão de dólares em 5 anos para financiar organizações rebeldes armadas. Duzentos milhões de dólares por ano não são nada perto dos orçamentos das guerras do Iraque e Afeganistão, que giram na casa dos trilhões, mas são uma quantidade enorme de dinheiro na Síria, cujo PIB estava em torno de 60 bilhões em 2010, antes da guerra começar. Mantendo as proporções, seria como se a CIA gastasse 7 bilhões de dólares, ou um quarto do orçamento total do Ministério da Defesa brasileiro, num exército paramilitar para invadir o Brasil. Parte das armas da CIA que chegaram ao Exército da Libertação da Síria (Free Syrian Army) acabaram indo parar nas mãos da Jabhat Al Nusra (associada a Al Qaeda) e do próprio Estado Islâmico.
Por fim, a guerra e as Forças Armadas são tema de inúmeros filmes e séries de Hollywood. Alguns dos filmes com as maiores bilheterias dos últimos anos tiveram alguma influência dos militares. Em troca de deixarem os produtores utilizarem as bases, os aviões, tanques, submarinos e porta-aviões, eles fazem alguns "ajustes" nos roteiros, sempre no sentido de melhorar a imagem deles e retirar críticas ou qualquer cena que possa mostrar um militar fazendo algo ruim. Ou seja, além do domínio militar duro, da influência clandestina, da economia e da política interna e externa, a guerra faz parte da cultura e da identidade estadunidense, num processo de construção que ocorre há décadas. Portanto, quando ouvir algum oficial desse governo falar em "paz", desconfie.
Notas:
(1) - Alguns dos países que sediam bases ou tropas estadunidenses são: Alemanha, Japão, Itália, Romênia, Bulgária, Polônia, Arábia Saudita, Bahrein, Djibouti, Qatar, Nigéria, Camarões, as ilhas de Diego Garcia e Guam, Filipinas, Coréia do Sul e outros. Além disso, os EUA ocupam o Iraque, o Afeganistão e a Síria.
(2) - Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Somália (com drones), Paquistão (com drones) e Iêmen (com drones).
(3) - Os comandos militares regionais são seis: NORTHCOM, que cobre a América do Norte e Caribe, SOUTHCOM, que cobre a América Central e do Sul, AFRICOM, que cobre a África, EUCOM, que cobre a Europa, CENTCOM, que cobre o Oriente Médio e parte da Ásia e o INDOPACOM que cobre Ásia e Oceania. No ano passado, foi re-estabelecido o SPACECOM, para comandar operações no espaço sideral, e a Força Espacial foi fundada como um braço separado das Forças Armadas.
Curto, preciso é inteligente panorama da presença americana no mundo. Parabéns Caio.
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