Estou - finalmente - conectando o blog à coluna. Me desculpem pela demora.
As colunas anteriores podem ser encontradas em:
- "Tropas americanas no Mar Báltico" (17/06/2015)
- "Espionagem na França" (01/07/2015)
- "CIA usa apoio de psicólogos em sessões de tortura" (15/07/2015)
- "Filmadoras e Armas" (31/07/2015)
- "A Guerra 'Fria'" (14/08/2015)
- "OTAN versus Rússia" (28/08/2015)
- "11 de Setembro" (11/09/2015)
- "DDHH, ONU, e Arábia Saudita" (25/09/2015)
- "Russos na Síria" (09/10/2015)
- "Ainda sobre a Síria" (23/10/2015)
Ainda sobre a Síria
Há um burburinho agora, sorrateiro, dizendo – após 20 dias –
que a intervenção russa na Síria foi um enorme fracasso. Que Putin
está cavando a própria cova, que ele só entrou no conflito abertamente pois os EUA deixaram um “vácuo”, e que no fundo, no
fundo, seu objetivo é apenas fortalecer sua influência com os extremistas e ditadores Xiitas inimigos do Ocidente: A Síria “de
Assad”, o Irã e, para não ter dúvidas de quem estamos falando, o
Hezbollah.
Não caiam nessa, amigos. É o chamado “spin”, o jeito de dar a
notícia que consegue impor um certo ponto de vista. E não é um
spin qualquer. Segundo a porta-voz do Ministério das Relações
Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, podemos comparar a postura da
mídia Ocidental com relação a intervenção russa com a de um
“batalhão armado ofensivo”. É quase impossível não perceber
as curiosas e cuidadosas escolhas de palavras por parte dos
jornalistas.
Além disso, este é um assunto complexo; ou seja, é precipitado
tirar conclusões após 20 dias de intervenção militar. A essa
altura, apenas acompanhar os acontecimentos é uma atividade custosa.
Hoje mesmo, enquanto fecho esta coluna, foi confirmado que Bashar
al-Assad foi à Rússia encontrar Putin, em sua primeira viagem
oficial ao exterior desde 2011.
Dito isso, devo dizer que em relação a coluna anterior, encontrei mais confirmações que de fato, a Rússia vem atacando posições de
todo tipo de terroristas, incluindo os “moderados” financiados
pela CIA e pelo Pentágono. Especulo que esse é um dos seus
objetivos estratégicos. Ao atacar posições clandestinas dos EUA na
Síria, os russos reforçam a aliança com Assad, e ao mesmo tempo
podem observar a reação consternada dos EUA, que não pode sequer
admitir a existência de tais operações clandestinas.
Os Drone Papers
Na semana passada, uma nova leva de documentos foi revelada pelo blogTheIntercept.com. Essa nova leva de documentos lida diretamente com
um dos mais secretos programas dos EUA: assassinato via drone. O
autor do vazamento ainda é desconhecido. (Nota: Um link prático para os documentos pode ser encontrado no Cryptome, é um dos links do dia 15 de outubro).
Os documentos, por si só, são fascinantes. Dá toda a impressão
que esse era exatamente o tipo de documento que apenas os olhos do
mais alto escalão dos EUA podiam ver. Eles dão uma visão do que
foram a Força Tarefa (Task Force) 48-4 e a Operação Haymaker. Uma
das revelações é que, no caso da Operação Haymaker, no nordeste
do Afeganistão, em 56 ataques, foram 219 “inimigos mortos”
(Enemy Killed in Action, EKIA no documento) para 35 “prêmios”
(jackpot, JP no documento). Os prêmios, é claro, são os alvos. Em
média, para cada alvo morto, 6 outras pessoas morreram, simplesmente
por estarem perto dele. Também fica óbvio que alguns ataques
erraram totalmente o alvo.
A cobertura do The Intercept é bastante abrangente, sendo oito
matérias, cada uma focando em um aspecto do programa e de seus
problemas. É de ficar tonto. Entre os outros aspectos estão: o
especulativo processo de “adivinhar” se o indivíduo em questão
foi morto ou não; o especulativo processo de determinar quemrealmente morreu; a grande burocracia envolvida nos ataques; os
depoimentos de diversos oficiais denunciando as falhas do programa; adifícil relação com os governos do Iêmen e da Somália; e a expansão militar dos EUA na África (de onde a Força Tarefa está
baseada).
O crucial, no entanto, está no primeiro artigo.
Intitulado “O Complexo do Assassinato”, ele inicia assim: “Drones
são uma ferramenta, não uma política. A política é assassinato”.
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