23/02/2015

Geopolítica e "O Fim dos Tempos" - Parte 1

Olá leitor!

Estou reiniciando as postagens no meu blog. Vamos ver no que dá.

Geopolítica e "O Fim dos Tempos"

Ultimamente, tenho sido perguntado diversas vezes se eu acredito que estamos vivendo "no fim dos tempos". A expressão está aí, no cotidiano, toda vez que a nova decapitação, a nova guerra civil ou o novo escândalo da política aparece nos jornais.
O ser humano sempre criou mitos de destruição total. Sempre houve profetas que anunciaram que "o fim está próximo". E em cada época, se utilizaram dos acontecimentos no contexto em que estavam para argumentarem que estavam certos. Por isso, de início, já recuso o argumento de que "agora" é o fim dos tempos.
Dito isso, mesmo assim, os últimos anos parecem sinalizar uma mudança. A aceleração da entrada da tecnologia em nossas vidas, a comunicação instantânea, as redes sociais, etc., estão mudando as relações sociais. Hoje em dia a palavra "singularidade" está aos poucos entrando no vocabulário. A singularidade é um conceito que o futurista Ray Kurzweil tem propagandeado bastante, principalmente a partir do seu livro de 2005, The Singularity is Near (A Singularidade Está Próxima). A singularidade não é o assunto deste post, mas ela resume essa "sensação" de que há uma mudança significativa em curso (caso se interesse, há muita coisa na Internet sobre a singularidade). Para esse post, eu vou mais atrás.
O especialista em União Soviética, e futuro membro do Conselho de Segurança Nacional do governo de Jimmy Carter, Zbigniew Brzezinski, escreveu um livro em 1970 chamado "Entre Duas Eras - América: O Laboratório do Mundo". Segundo a Wikipédia, Zbig, para os íntimos, já estava envolvido em política desde 1960, na campanha de John F. Kennedy. O argumento de seu livro está resumido no primeiro capítulo: "O Começo da Era Tecnotrônica". Nele, ele diz:
A transformação que ora ocorre, especialmente nos Estados Unidos, já está criando uma sociedade cada dia mais diversa de sua predecessora industrial. A sociedade pós-industrial está-se tornando uma sociedade "tecnotrônica": sociedade moldada, cultural, psicológica, social e economicamente, pelo impacto da tecnologia e da eletrônica - em especial na área dos computadores e das comunicações.
 Ele continua, mais para frente:
(...) a crise atual da crença institucionalizada ocorre no contexto da revolução tecnotrônica, revolução que não é territorial mas espaço-temporal. 
 Esta nova revolução afeta quase simultaneamente todo o globo, resultando em que as novidades e as novas formas de comportamento movem-se rapidamente de uma sociedade para outro. (...)
No Terceiro Mundo (...) a comunicação e a educação de massa criam expectativas - para as quais a riqueza material dos Estados Unidos fornecem um vago modelo - que simplesmente não podem ser atendidas pela maioria das sociedades. Como nem a comunicação nem a educação podem ser contidas, é de se esperar que as tensões políticas cresçam na medida em que as atitudes puramente paroquiais tradicionais cedam cada vez mais a perspectivas globais mais amplas. (Grifo meu)

Esse argumento grifado me serviu de referência desde que o li. Zbig descreveu um conflito essencial entre os valores e grupos dominantes de uma sociedade qualquer - o status quo -, e as novas gerações que buscam inovar, criar e questionar tais valores e grupos. Só que apontou uma nova fase, em que qualquer um que queira, pode buscar informação e "perspectivas globais mais amplas", instantaneamente. Ainda que a tensão sempre tenha existido, a sociedade "tecnotrônica" a escancara e dinamiza.
Na minha opinião, isso descreve muito bem a situação atual. As populações dos países mais pobres, com instituições menos sólidas, que antes tinham poucos canais de informações e meios de fiscalizar seus governos, passam a questionar as narrativas dominantes. Os canais de informação que eram controlados, restritos, hierarquizados, não conseguem mais ter informações "exclusivas". Pela Internet, a informação voa ao redor do mundo. Isso gera casos como o de Julian Assange, que desenvolveu uma tecnologia para obter e divulgar os "podres" de diversos governos, e que repercutem às vezes de maneira violenta nos países afetados, como na Tunísia. O Twitter e a própria Internet chegaram a ser bloqueados durante os protestos massivos no Egito em 2011. O Instagram foi bloqueado no auge dos protestos em Hong Kong em 2014.
Ainda assim, há muito controle. A TV ainda é o instrumento de informação e controle mais forte, mas a tendência é clara: quanto mais jovem, menos peso é dado para a informação da TV. Outro fenômeno que veio dessa nova era de comunicação foram as novas formas de organização. Ainda que os núcleos - os sindicatos, os movimentos sociais, os centros acadêmicos - se reúnam "fisicamente", a divulgação de protestos está totalmente inserida e potencializada pelas redes sociais. E tais protestos reúnem indivíduos que talvez nunca se encontrariam, criando novos laços...

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Portanto, pra mim, quando se fala em "fim dos tempos", essa sensação é consequência de que o indivíduo hoje pode escolher mil e uma fontes para obter informações sobre o mundo ao redor. E assim, pode ser que muitos conflitos, que antes estavam do outro lado do mundo e não passavam no Jornal Nacional, agora passem a aparecer na sua Timeline do Facebook. Ou seja, não é exatamente que haja cada vez mais conflitos, guerras, golpes de estado e revoluções no mundo, mas que a visibilidade desses conflitos é muito maior agora. Essa "mera" visibilidade tem consequências para os que mexem os pauzinhos de tais mudanças... (Continua na parte 2)

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