26/05/2018

"No Brasil, os militares não atiram nos OVNIs" - Abertura do 23º Congresso de Ufologia

Ontem, começou o 23º Congresso Brasileiro de Ufologia, em Porto Alegre. O evento é organizado pela Revista UFO, a mais antiga publicação do mundo sobre o assunto, com 450 revistas publicadas, além de inúmeros livros. Esta edição contará com palestras sobre as investigações oficiais dos militares de 5 países: Argentina, Brasil, Chile, Uruguai e Estados Unidos. Além disso, vários outros aspectos do fenômeno serão abordados.

O evento começou com uma apresentação de A. J. Gevaerd, um dos fundadores da Revista UFO e pesquisador há várias décadas. Ele mostrou algumas das iniciativas da revista, do Centro Brasileiro de Pesquisa sobre Discos Voadores e do Instituto Brasileiro de Exopolítica, que incluem viagens, congressos e até um curso para formar investigadores ufológicos, ministrado por um perito criminal. Uma das principais campanhas é "Caso Varginha: Temos o Direito de Saber!".

O caso Varginha, ocorrido em janeiro de 1996, é um dos mais importantes da ufologia mundial. Um objeto, detectado por radar e visto por várias testemunhas, caiu numa fazenda próxima a Varginha. O empresário Carlos de Souza estava viajando de carro, viu o objeto caindo e foi até o local investigar. Chegando lá, havia dezenas de militares no local recolhendo os destroços da nave. Um deles viu Carlos, retirou de suas mãos um pedaço da nave e o expulsou do local. Em seguida, ele foi até um posto de gasolina e lá foi abordado por dois homens que o ameaçaram. Ele ficou meses em silêncio até ver uma matéria na Revista UFO e resolver entrar em contato com o ufólogo Claudeir Covo para contar sua história[1].

Alguns dias depois, começaram as histórias de que criaturas estranhas estavam na cidade. Bombeiros capturaram uma das criaturas com uma rede, em 20 de janeiro. À noite, o PM Marco Eli Chereze encontrou outra criatura e a capturou com as próprias mãos[2]. Duas semanas depois, ele começou a sentir dores e teve paralisia progressiva. Deu entrada no hospital dia 15 de fevereiro e faleceu em seguida, aos 23 anos de idade. Os motivos para o óbito, segundo o médico, foram "insuficiência respiratória aguda, septicemia e pneumonia bacteriana"[3].
Os corpos dos seres foram levados pelos militares para a Unicamp, sob os cuidados do legista Fortunato Badan Palhares[4]. Todos os militares envolvidos foram ordenados a manter silêncio sobre o caso e todos os arquivos foram guardados à sete chaves. A Carta de Varginha explica o caso em mais detalhes.

Vinte e dois anos depois, o segredo tem que acabar. Por isso há uma petição online para pressionar os militares e liberarem a informação. A Revista UFO já se reuniu com os militares em Brasília, em 2005, e foi bem recebida lá. Porém, na reunião, o representante do Exército disse que não sabia o que estava fazendo lá, mandando uma mensagem clara que o Exército não cooperaria. A Força Aérea, como veremos mais pra frente, tem cooperado bastante com os ufólogos. O Exército estava diretamente envolvido com a recuperação dos destroços da nave e dos tripulantes em Varginha, o que talvez explique a relutância em cooperar.

Palestrantes no evento. Da esq. para a dir.: Coronel Aviador Marcos Kentaro Adachi, comandante do CINDACTA II, Coronel Antonio Celente Videira, membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra, A. J. Gevaerd, fundador da Revista UFO e Marco Antonio Petit, editor da Revista UFO.
Após a apresentação de Gevaerd, foi a vez de Marco Antonio Petit. Autor de dez livros e editor da Revista UFO desde a primeira edição, sua palestra focou nos casos ufológicos que envolveram militares brasileiros, além dos depoimentos particulares e declarações públicas de militares de todas as patentes. O objetivo foi estabelecer qual a posição oficial dos militares frente ao fenômeno, além de falar sobre a conclusão que alguns militares já chegaram, porém ainda não falam abertamente - de que na verdade, os seres humanos compartilham a Terra com outros seres, que tem diversas bases no "nosso" planeta.

A apresentação começou relembrando uma coletiva de imprensa que a Força Aérea convocou em novembro de 1954. Naquele ano, houve uma "onda" de avistamentos de OVNIs. Uma formação de OVNIs foi avistada em pleno dia pela Guarda Presidencial no Palácio do Catete. Milhares de pessoas avistaram um objeto em Curitiba e a foto estampou os jornais da época. Na coletiva, o então Chefe do Serviço de Informações do Estado Maior disse: “O problema dos discos voadores tem polarizado a atenção do mundo inteiro, é sério e merece ser tratado com seriedade. Quase todos os governos das grandes potências se interessam por ele e o tratam com seriedade e reserva, dado seu interesse militar”.

Petit também descreveu um dos primeiros encontros da Marinha brasileira com um objeto não identificado. O caso foi descrito pelo Almirante Fernando de Almeida Rodrigues e ocorreu durante a II Guerra Mundial. Os submarinos alemães estavam torpedeando navios brasileiros na costa nordestina e a Marinha era responsável por resgatar os náufragos. Ele contou que ao chegar próximo dos locais dos ataques, havia objetos luminosos no ar, em cima dos sobreviventes. Ele chegou a conclusão que seja lá quem fosse, queria ajudar. Em outro caso, ele e a filha adolescente observaram uma nave que pousou e seus tripulantes interagiram com eles. Quando o Almirante dos Discos Voadores morreu, a Marinha entrou na sua casa e confiscou muitos documentos.

Outro encontro da Marinha com esses objetos produziu uma das mais famosas fotos de OVNIs do mundo, tirada na praia de Trindade em 16 de janeiro de 1958. O navio Almirante Saldanha estava numa missão para mapear a costa e havia um fotógrafo a bordo, Almiro Barauna. De repente, os marinheiros observaram um objeto metálico, circular, no horizonte. Houve uma "convulsão" no navio, segundo o fotógrafo, entrevistado por Petit. Ele tirou diversas fotos e quatro mostraram o objeto. O próprio Presidente na época, Juscelino Kubitschek, mandou uma das fotos para os donos do Correio da Manhã, no RJ.

Montagem com duas das fotos tiradas por Barauna.
Outro caso muito conhecido foi a "Noite Oficial dos UFOs no Brasil", em 19 de maio de 1986. 21 objetos foram detectados por radar e a Força Aérea enviou caças para investigar. Um dos caças foi seguido por 13 objetos. Os militares convocaram uma coletiva na qual os pilotos puderam descrever o caso, e prometeram um relatório detalhado depois. Só que a imprensa "esqueceu" do relatório e não pressionou pela sua liberação. Petit e a jornalista Regiane Schumann conseguiram entrevistar o ministro depois, que disse que o relatório não foi divulgado porque não conseguiram chegar a algumas conclusões, como o tamanho dos objetos. O comando da força aérea foi trocado nesse interim e o novo comando negou tudo. O ministro, sabendo essa nova posição, abriu o jogo e disse:
“Naturalmente existe uma preocupação muito grande das autoridades em não divulgar notícias que possam levar ao pânico as populações, porque isto poderia provocar uma série de especulações e levar até um estado de histeria coletiva. Todos nós temos conhecimento do que aconteceu em Nova York a partir de Orson Welles, e a radio difusão de sua novela sobre a chegada dos extraterrestres”
O caso que o ministro se referiu foi o pânico que ocorreu nos EUA em 1938, quando o autor Orson Welles leu um trecho do livro A Guerra dos Mundos e milhares de pessoas acreditaram na invasão alienígena, entrando em pânico. Esse caso é muito conhecido na história da ufologia. No livro Flying Saucers from Outer Space, do Major Donald Keyhoe, que tinha acesso aos arquivos ufológicos dos EUA, ele diz que "a memória desse pânico ainda preocupava os oficiais de Defesa"[5]. Ou seja, esse era um argumento contra a revelação por parte dos militares.

Voltando à noite oficial dos UFOs, um dos aspectos mais complicados para os militares admitirem é a superioridade tecnológica dos objetos. O ex-ministro, em outra oportunidade, ficou alguns dias com Petit e então conversou mais sobre o caso. Ele disse que foi feito um levantamento total com o CINDACTA I, o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo, ou seja, as conversas entre os pilotos e os controladores, e os dados dos radares que cobriam a área onde os objetos estavam. Foi constatado que um objeto afetou um sistema de navegação de um dos caças. Também calcularam as velocidades dos objetos. Um dos objetos acelerou da imobilidade para 2000km/h em segundos, outro se moveu a Mach 15 dentro da atmosfera, algo que nenhum caça chegava próximo. A conclusão do ex-ministro foi que a tecnologia envolvida naquele caso estava tão distante da nossa realidade que "parecia magia".


Além desses, Petit descreveu um caso que ocorreu em 1962 numa patrulha no Rio Paraguai, a Operação Prato e casos na Serra da Beleza, na qual ele presenciou várias vezes objetos que parecem entrar e sair da terra. Ele também ressaltou que vários militares destacaram que não ouviram falar de um caso sequer de ações hostis por parte dos UFOs. Aqui no Brasil, para atirar num objeto desses, é necessária uma ordem presidencial. Outros países tem uma política diferente e tentam abater os objetos avistados.

Por fim, ele contou sobre uma palestra que fez no Clube Naval, no Rio de Janeiro, em abril deste ano. Segundo Petit, há grupos que discutem ufologia abertamente no Clube. Nessa palestra, ele descreveu sua hipótese sobre o acobertamento. A principal razão, para ele, é que na verdade outros seres possuem bases no nosso planeta. Militares já falaram sobre isso de forma extra-oficial mas tem medo de admitirem publicamente que os objetos foram detectados saindo da Terra, ao invés de chegando. J. Allen Hynek, o consultor da Força Aérea dos EUA sobre o fenômeno UFO durante décadas, também aludiu a esse fato em 1983, quando disse que o número de objetos rastreados na Terra é muito superior ao número de objetos que são rastreados vindo do espaço.

Sua conclusão, como pesquisador, é que o maior contato é com nós mesmos. Temos que refletir sobre quem somos, quem são eles, o que eles esperam de nós e que a humanidade é apenas uma das raças do universo. Nenhuma civilização é dona de nada e somos todos co-habitantes do universo numa jornada evolutiva coletiva.

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Há uma farta história no Brasil do envolvimento dos militares com UFOs. Para os brasileiros, os militares são a instituição mais confiável do Brasil. Ou seja, era para esses contatos e essas declarações serem de conhecimento comum - para que o assunto da ufologia não seja mais estigmatizado ou ridicularizado pela população em geral. Como disse o ministro há mais de 60 anos, o assunto tem que ser tratado com seriedade. Por isso, a questão não é de crença, e sim de acesso à informação. A Força Aérea vem liberando milhares de arquivos e cooperando com os pesquisadores. Falta a Marinha e o Exército fazerem o mesmo. Nós precisamos saber tudo que os militares já sabem sobre o fenômeno ufológico para assim, passarmos ao próximo passo: o que fazer em relação à esses outros seres que dividem conosco o universo?

Notas:

[1]: Petit, Marco Antonio. Varginha: Toda Verdade Revelada (2015), p. 58-61.
[2]: Ibid, p. 87.
[3]: Ibid, p. 129.
[4]: Ibid, p. 115.
[5]: Keyhoe, Donald E.. Flying Saucers from Outer Space (1954), p. 19.

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