16/12/2017

A derrota do Estado Islâmico

Recentemente, Vladimir Putin se juntou a outros líderes e declarou que a guerra contra o Estado Islâmico na Síria está praticamente acabada. Em 11 de dezembro, numa visita surpresa a base militar Hmeymim, na Síria, o presidente da Rússia anunciou a retirada de uma “parte significativa” das tropas russas. Um dia antes, no Iraque, houve uma parada militar que anunciou o fim das grandes operações contra o Estado Islâmico. O primeiro-ministro do Iraque Haider al-Abadi declarou o dia 10 de dezembro como feriado nacional. Em novembro, foi a vez de Deir Ez-Zor, liberado pelo exército da Síria. Antes disso, em outubro, forças aliadas dos EUA liberaram Raqqa, na Síria, a capital do califado do Estado Islâmico. Essa vitória, por sua vez, veio na esteira da liberação de Mosul, no Iraque, com a ajuda de forças curdas e iranianas. A série de triunfos contra o Estado Islâmico é certamente o maior revés da história do califado desde que foi declarado em 2013. A área controlada pelo EI agora é a menor de sua breve história.

A guerra contra terroristas na Síria começou logo após o início da guerra civil em 2011. Protestos contra Assad rapidamente evoluíram para um conflito armado. Os EUA apoiaram os grupos rebeldes, em nome da “democracia”, contribuindo para a instabilidade no território sírio. Em 2015, um documento da DIA obtido pela ONG Judicial Watch, dos EUA, mostrou que havia informações de que estados que queriam a queda de Assad poderiam apoiar um califado no leste da Síria (na região de Deir Ez-Zor). Michael J. Flynn, ex-diretor da Defense Intelligence Agency, confirmou que os EUA deixaram que os rebeldes prosperassem para enfraquecer Assad, numa entrevista em 2015. John Kerry, então Secretário de Estado de Obama, admitiu em um áudio vazado que o governo dos EUA viu o crescimento do Estado Islâmico como uma força para pressionar Assad, mas achou que poderia “controlar” essa ascensão.

Mapa da Síria


Ou seja, tudo indica que a ascensão do Estado Islâmico não foi uma grande surpresa para os EUA, muito menos para Arábia Saudita, Qatar e outros citados no memorando da DIA. Desde o início, era sabido que as armas acabaram nas mãos de jihadistas. Recentemente novas reportagens confirmaram que armas financiadas pelos EUA foram parar inclusive nas mãos do EI. Esse fluxo de armas para os rebeldes sírios – que foi da ordem de 250 milhões de dólares por ano desde 2013 – foi encerrado abruptamente por Donald Trump no meio deste ano, uma ação que analistas previram desde novembro de 2016, quando Trump foi eleito. Será que é coincidência que após essa fonte de financiamento secar, o Estado Islâmico sofreu todas essas derrotas?

03/08/2017

John Pilger - Por dentro do Governo Invisível, parte dois

(Segunda parte traduzida do artigo Inside the invisible government: War, Propaganda, Clinton and Trump, postado no site rt.com em 28 de outubro de 2016. Parte um aqui. Os destaques são meus.)

Aliados no golpe da Ucrânia: Foto da esquerda - Oleh Tyahnybok, líder do partido Svoboda, Vitaly Klitschko (atrás), membro da oposição, Victoria Nuland (frente), Secretária-Assistente de Estado para Assuntos da Europa e Eurásia na administração Obama, Arseny Yatsenyuk, membro da oposição. Foto central - membros do partido de extrema direita Svoboda, durante o golpe na Ucrânia (notem o símbolo neonazista no braço). Foto da direita - Yatsenyuk e Tyahnybok se encontram com John McCain (Senador Republicano do Arizona, EUA).

A Ucrânia é outro triunfo da mídia. Jornais liberais respeitáveis como o New York Times, o Washington Post e o Guardian, e redes grandes como a BBC, NBC, CBS, CNN tiveram um papel crítico em condicionar sua audiência a aceitar uma nova e perigosa Guerra Fria. Todos foram enganosos ao mostrar eventos na Ucrânia como atos malignos da Rússia quando, de fato, o golpe na Ucrânia em 2014 foi trabalho dos Estados Unidos, ajudados pela Alemanha e a OTAN.

23/07/2017

John Pilger - Por dentro do Governo Invisível, parte um

(Traduzido do artigo Inside the invisible government: War, Propaganda, Clinton and Trump, postado no site rt.com em 28 de outubro de 2016. Os destaques são meus.)


O jornalista americano Edward Bernays é frequentemente descrito como o homem que inventou a propaganda moderna. Sobrinho de Sigmund Freud, o pioneiro da psicanálise, foi Bernays quem criou o termo “relações públicas” como um eufemismo para a parcialidade e suas mentiras.

15/07/2017

Filmadoras e Armas, parte 2

Al Pacino, na frente do selo da CIA, em O Novato (2003).

Em julho de 2015 eu escrevi uma coluna no jornal Hora do Povo sobre o Office of Entertainment Liaison (Escritório de Relações de Entretenimento, numa tradução livre) do Departamento de Defesa dos EUA. Esse Escritório foi alvo de um processo de acesso a documentos iniciado por Tom Secker, do site SpyCulture, que obteve um grande número de documentos até então inéditos. Na coluna, eu escrevi:

Esse escritório funciona da seguinte maneira: quando um produtor de TV, de filmes, de videogames, etc., quer fazer algo sobre os militares, esse escritório pode ser contatado para conseguir ajuda. Recentemente, dois pesquisadores obtiveram deles documentos internos – inéditos até então – que revelam a extensão do relacionamento do Pentágono com o mundo do entretenimento.

(…)

Essa remessa de documentos é o pontapé inicial para se aprofundar nessa relação ambígua entre o Departamento de Defesa e a indústria do entretenimento. Neles não há nada sobre os acordos em si, ou seja, uma descrição do que exatamente foi pedido que o diretor X ou Y modificasse na sua obra em troca de colaboração. Outro aspecto notável do documento é que todos os nomes dos militares foram retirados do documento – ninguém pode ser contatado para uma entrevista, por exemplo.
Semana passada, isso mudou. Um novo artigo de Tom Secker e Matthew Alford detalha suas investigações sobre mais 4.000 páginas, inéditas, de documentos do Pentágono e da CIA sobre o assunto. Desta vez, há detalhes sobre os pedidos de alteração dos roteiros. Segundo os autores,

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