09/12/2016

Pelo Mundo Nº 8

A Presidência Imperial

Estou relendo o livro “Bush em Guerra”, de Bob Woodward (jornalista do Washington Post que ficou conhecido pelas reportagens do escândalo Watergate). O livro é uma janela para o funcionamento do National Security Council, o Conselho de Segurança Nacional, uma entidade do poder executivo dos EUA que eu considero importantíssima, e pouco se fala dela. É o epicentro do poder imperial dos EUA.

As reuniões do NSC fazem parte da rotina diária do Presidente; as melhores informações obtidas pelas agências de inteligência – interceptações telefônicas de outros presidentes e líderes de estado, informações sobre golpes de estado em gestação, informações de satélites secretos – convergem para o NSC. O NSC reúne o Presidente, o Vice-Presidente, o Secretário de Defesa e o Secretário de Estado. Outros secretários, o diretor de Inteligência Nacional, os diretores da CIA, da NSA, também podem participar. As discussões do NSC embasam as National Security Policy Directives, NSPDs, ordens do Presidente que orientam tudo relacionado a segurança nacional. Metade das ordens da presidência de George W. Bush ainda são secretas.

Woodward descreve as reuniões diárias após os ataques de 11 de setembro, com detalhes dos debates entre os membros do NSC da época: Bush, Cheney, Rumsfeld, Powell, Wolfowitz, Tenet e outros. Esses debates resultaram nos planos para a guerra contra o Afeganistão. Um dos pontos centrais da guerra foi a parte clandestina. Um grupo de agentes da CIA de codinome “Jawbreaker” (Quebra-queixo) foi enviado ao Afeganistão, com ordens de reestabelecer contato com a Aliança do Norte, um grupo militar de afegãos que haviam sido financiados pelos EUA durante a primeira guerra do Afeganistão nos anos 80. O objetivo era utilizá-los contra o Talibã. Mas não era só isso. Cofer Black, o diretor de antiterrorismo da CIA, disse ao líder do grupo, Gary, que havia mais uma missão. O presidente havia assinado uma nova ordem e “as luvas caíram”. “Pegue o bin Laden, encontre-o. Eu quero sua cabeça numa caixa,’ instruiu Black. ‘Você está falando sério?’ perguntou Gary. ‘Absolutamente,’ disse Black. A nova autoridade era clara. Sim, disse ele, ele queria a cabeça de bin Laden.”

Até 1976, não havia uma legislação específica que proibisse as agências de inteligência de assassinarem indivíduos com o objetivo de influenciar a política de outro país. Nesse ano, após as investigações de uma CPI para investigar abusos das agências de inteligência – o Church Committee – que revelou diversas operações da CIA para subverter a ordem política de países como Congo, República Dominicana, Chile, Cuba e outros, o presidente Gerald Ford assinou a Ordem Executiva 11905, que proibiu o “assassinato político”. É por isso que Gary ficou surpreso com as palavras de Cofer Black em 19 de setembro de 2001. Uma política de 25 anos havia sido descartada por George W. Bush – secretamente, após uma semana de discussões também secretas. Quinze anos depois, o texto da ordem ainda não é público.

O próximo presidente, Barack Obama, continuou as guerras começadas por Bush. E introduziu uma nova modalidade de assassinato, o assassinato via drone. Em um artigo no New York Times em maio de 2012, foi revelado que Obama preside uma reunião semanal na qual ele pessoalmente autoriza bombardeios para matar “militantes terroristas”. Esse comitê é juiz, júri e executor. E é essa presidência que Trump vai herdar...

(Coluna publicada na página 7 da edição 3500 do jornal Hora do Povo)

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