25/11/2016

Pelo Mundo Nº 7

Para onde vai a máquina de guerra imperial?


Donald Trump, um candidato rejeitado pelo establishment, rejeitado até pelo próprio Partido Republicano – que não deu um centavo para sua campanha – acabou eleito presidente dos EUA. Trump é o primeiro presidente dos EUA que não é um político. Ele nunca foi funcionário público, nem foi eleito para nenhum cargo, antes de se tornar o político mais poderoso do mundo. Portanto, não existe um histórico de suas posições políticas – apenas declarações de um empresário, que no final das contas tem pouco impacto. Então, ao redor do mundo todos estão se perguntando: como vai ser a presidência Trump?

Aqui vou focar na política externa. Durante a campanha, Trump tomou uma linha praticamente “isolacionista”. O seu discurso de colocar a “América em primeiro lugar”, rechaçar as invasões ao Iraque e o bombardeio na Líbia, dizer que os EUA deve parar de armar os rebeldes da Síria e se aproximar da Rússia para encontrar uma solução conjunta para a guerra civil de lá se opôs totalmente a Hillary, que conquistou o apoio dos ideólogos da guerra que povoam Washington, D.C., inclusive aqueles que sempre se alinharam com o Partido Republicano. A única posição esperada de um candidato Republicano tomada por Trump foi uma linha dura contra o Irã. Bill Kristol, editor da revista conservadora Weekly Standard, e um dos porta-vozes dos “neoconservadores” que dominaram a administração de George W. Bush, lutou contra a nomeação de Trump como candidato Republicano, inclusive fazendo uma tentativa desastrada de nomear um candidato próprio e no final das contas, apoiando a Democrata Hillary. Trump, por sua vez, chamou Kristol de “um perdedor que quer bombardear todo mundo”.

O presidente-eleito Trump, porém, parece estar se afastando do “isolacionismo”. Já durante a campanha, discretamente chamou os neoconservadores James Woolsey e John Bolton, que advogam por uma linha duríssima contra o Irã, para serem seus conselheiros de política externa. Até agora, nenhum deles foi nomeado para seu gabinete, mas o escolhido para diretor da CIA, Mike Pompeo, tem posições que o Partido (Invisível) da Guerra aprova – contra o acordo com o Irã, a favor de vigilância em massa e de tortura, etc. O diretor da CIA não possui muita autonomia, já que sua autoridade e suas diretrizes emanam diretamente da presidência. Pode ser que Trump queira agradar o Partido da Guerra com esse nome, mas pensa em manter a CIA em rédeas curtas quando a bola começar a rolar de verdade.

Outro nome importante é o de Mike Flynn, que será o Conselheiro de Segurança Nacional. Flynn foi diretor da DIA, a agência de inteligência das Forças Armadas dos EUA, o equivalente militar da CIA. Ele fez declarações pesadas sobre o Islã, o comparando a um “câncer”. Será que ele irá prescrever uma quimioterapia em forma de bombas?

A posição de Secretário de Estado também está no ar e praticamente todos os nomes são de pessoas que acreditam no “excepcionalismo” estadunidense. Um deles é o próprio John Bolton, mas o ex-prefeito de Nova Iorque Rudolph Giuliani, que também considera o Irã um estado quase terrorista, também está no páreo. A consistência aqui é que nenhuma das pessoas que estão próximas a Trump querem estender a mão para o xiita Irã. Se isso quer dizer que os EUA continuarão alinhados com os sunitas da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Qatar, e por aí vai, não espere mudanças na situação do Oriente Médio. Mas Trump, ambíguo como é, também quer se aproximar da Rússia, aliada do Irã. Aguardemos cenas dos próximos capítulos...

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